O Músico Cristão Deve Participar de Shows Com Artistas Populares?
Ao longo de meu ministério, testemunhei, com pesar, jovens serem disciplinados por frequentarem shows seculares. O amor às baladas, por vezes, suplantava o amor ao Mestre. Agora, o que dizer, diante da notícia de que um dos mais populares cantores adventistas não apenas esteve presente, mas participou como convidado de uma apresentação do cantor Ed Motta?
A notícia, que aos desinformados poderia soar como um boato maldoso, foi dada pelo próprio Leonardo Gonçalves, conhecido cantor adventista. Leonardo conta como se deu o convite (por meio de sua assessoria). Além disso, ele relata a emoção de estar ao lado de Ed Motta, a quem confessou admirar demais por "sua musicalidade e sensibilidade", razão pela qual o músico lhe tem servido sempre como "uma grande referência vocal".
Junto com Leonardo Gonçalves, Renato Max, do Raiz Coral, esteve cantando no show de Ed Motta. A música apresentada pelo trio (Motta, Gonçalves e Max) foi Isn t she lovely, antigo hit de Stevie Wonder.
Claramente, a atitude do cantor poderia gerar algumas polêmicas. O voto batismal, que todo adventista presta ao se unir à igreja, não fala com clareza da abstinência de frequentar os chamados "ambientes mundanos"? Se a igreja se posicionou tantas vezes, segundo o seu manual, agindo para corrigir cristãos anônimos por seus erros de conduta, o que fará quando o caso envolve um membro que é extremamente popular?
Em meio às questões que começam a surgir no horizonte, haverá o clima efusivo de admiradores de Leonardo, que o defenderão – alguns de forma quase idolátrica. Afinal, a mídia cristã tem favorecido a formação de uma tietagem que "blinda" músicos e artistas do meio gospel. Nenhuma crítica feita a eles deixaria de ser injusta. Nenhuma ressalva poderia ser menos do que diabólica!
As pessoas se esquecem de que o mesmo Jesus que disse que não devemos julgar (Mt 7:1), também disse que conheceríamos as pessoas pelos seus frutos (v. 16). Seria insensato dizer que o evangelho nos proíbe de analisar criticamente as tendências, doutrinas e comportamentos alheios apenas devido à cláusula "não julgueis". Pense nas palavras duras que Paulo diz contra os falsos mestres (Gl 1:8-9) ou sua reprovação ao um antigo líder que se apostatou (2 Tm 4:10).
Nos fóruns em comunidades do Orkut, alguns defensores ardorosos de Leonardo compararam a atitude do cantor ao exemplo de Jesus, que comia com os pecadores (Lc 15:1-2). Vale lembrar, porém, que Jesus não se misturou aos pecadores em seus hábitos corrompidos, mas se associou a eles com o objetivo de salvá-los. Seria um caso completamente diferente se Leonardo Gonçalves, ao se apresentar em alguma igreja, tivesse contado com a presença de Ed Motta para ouvi-lo e receber uma oração.
Sei que muitos poderão discutir: a música cantada por Leonardo não possuía teor religioso? Este é um aspecto curioso de algumas canções pop, que trafegam por temas religiosos (na maioria dos casos, de forma bem ambígua ou genérica). É preciso diferenciar composições desse naipe daquilo que é, na forma e na letra, apropriadamente religioso. Compositores cristãos se valem de influências culturais, o que é inegável (afinal, ninguém é um ET para produzir cultura à parte do meio em que vive). Ainda assim, tais aspectos culturais são reciclados e moldados pela cultura do evangelho. Por isso, B.B. Beach, pastor adventista, fala que o culto é transcultural, ou seja, extrapola os limites da cultura e sublima seus aspectos contrários ao evangelho.
Além da matéria bíblica, os adventistas têm contado, ao longo da sua história, com os escritos inspirados de Ellen White, que desenvolveu aspectos tratados implicitamente pela Bíblia no que toca à adoração. Com tanta luz, parece estranho que hoje estejamos dispostos a "descer um nível" e nos condicionar a seguir padrões da música secular, regida por interesses comerciais e voltada geralmente à satisfação de paixões carnais. Infelizmente, a tendência de colaborar com artistas de música popular é perigosa e só crescerá em influência, caso nenhuma posição seja tomada por nossos líderes.
Autor: Douglas Reis
Fonte: Questão de Confiança
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